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segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Post 003

Parece suspeita a afirmação de que a maioria das pessoas tem uma percepção confusa sobre quem realmente é. Quando tentamos responder à pergunta “quem sou eu?”, geralmente pensamos que nós somos aquela vozinha que fica o tempo todo tagarelando, na primeira pessoa do singular, dentro de nossa mente: “hoje preciso ir ao banco, pagar as contas x e y, ligar para a ‘insuportável’ fulana de tal, comprar o CD daquele cantor que ‘eu adoro’, jogar fora aquela roupa que eu ‘detestei’, etc.”. Parece que não há dúvida sobre quem sou: “eu” preciso, “eu” acho insuportável, “eu” adoro, “eu” detesto. Mas se você se concentrar e conseguir acalmar um pouco a sua mente, você vai notar que há outro “você”, um pouco acima, que consegue observar todos aqueles pensamentos na primeira pessoa que acabei de citar. Se você é aquele “eu” naqueles pensamentos, então quem é este que observa tais pensamentos?
Quando nos desenvolvemos no plano espiritual, adquirimos acesso cada vez maior ao nosso “Eu superior”, que é um estado de consciência mais elevado e não poluído pelos processos mentais. Quando comecei meu treinamento espiritual, há alguns anos, aprendi um truque bem interessante: programava o relógio para despertar em várias diferentes horas do dia. Quando o alarme tocava, eu tentava “surpreender” meu pensamento e observá-lo a partir do Eu superior. Frequentemente conseguir distinguir o meu “eu” mental – o ego – atuando freneticamente. Em breve vamos falar sobre o ego. Certamente você que me lê já teve vários lapsos de acesso ao Eu superior (estado de consciência pura), mas entender e discernir bem o ego e suas armadilhas é fundamental para ter um acesso duradouro a este estado de consciência que leva ao desenvolvimento espiritual, que conduz ao “estado de graça”, à “alegria perfeita”, à “experiência do Reino”, com queiram.
Eckhart Tolle, um mestre espiritual contemporâneo e autor de “best sellers”, conta uma experiência que foi verdadeiro “breakthough” no seu desenvolvimento: em forte crise existencial, planejando suicídio, dizia frequentemente para si mesmo: “eu não me aguento mais”. De repente, veio a luz: se eu não me aguento mais, quem é esse aguentava e quem é o que era aguentado? Somos dois? Daí começou a perceber todo o sofrimento que seu ego lhe trazia e aprender a ter acesso ao Eu superior.
Voltando ao tema da realidade ilusória criada pela mente, me lembro de uma observação de Anais Nin: “Nós não vemos as coisas como elas são, vemos as coisas como nós somos”. Pensadores, físicos, fisiologistas concordam que enxergamos o mundo com uma espécie de óculos, cujas lentes distorcem a nossa percepção de acordo com nosso estado mental. Isso se aplica muito claramente às experiências espirituais. Sempre que experimentamos contato com a Realidade Suprema (Espírito, Deus, ou como quiser chamar), nós a interpretamos de acordo com nosso estado mental (ou de consciência).
Jesus, ao longo do seu ministério de ensino neste mundo, fez algumas perguntas redentoras. São perguntas para as quais ele não dá respostas diretas, porque é a pergunta em si que traz a libertação. São perguntas semelhantes aos Koans, do Zen-budismo: o mestre propõe ao discípulo uma questão que é uma verdadeira charada. Este pode ficar muitos anos, às vezes uma vida inteira, tentando decifrar, mas somente se sua mente for totalmente transformada (metanóia) e ele conseguir enxergar a realidade como ela é, libertando-se das ilusões criadas pela mente, ele vai encontrar a resposta. Então o discípulo atingiu a iluminação.
Uma das perguntas redentoras propostas por Jesus a seus discípulos é: “e vós, quem dizeis que eu sou?” (Mc, 8). Jesus não deu, ele mesmo, a resposta aos discípulos, mas a pergunta certamente os conduziu não só à resposta, mas a uma evolução que culminou com iluminação. Isso, entretanto, só foi possível a partir de um conhecimento íntimo, profundo e pessoal do Cristo em cada um. Se você fizer essa pergunta aos cristãos que você conhece, a maioria deles se apressará em dar respostas fáceis e prontas que lhes foram fornecidas por suas igrejas, pastores, dogmas, teologias. Mas essa é uma resposta que cada um tem que encontrar dentro de si, se tiver a disciplina, persistência e vontade. É preciso aprender a ter acesso ao estado de consciência pura (ou à mente de Cristo, com definiu o apóstolo Paulo) e a partir daí conhecer profundamente o Cristo, para saber a resposta. Como um Koan, ela conduz à libertação e à iluminação. Aí, quando você souber quem Jesus é, você também saberá, sem nenhuma dúvida, QUEM VOCÊ É. Então vai entender a citação inicia o meu primeiro post:
A cerca de dois mil anos, Jesus disse a seus discípulos: “... se seguirdes meu ensinamento, conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.

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